Ora, que novidade! É durante o pensamento e a ação intelectual que, mais uma vez, e, pra variar, me deparo com grandes impasses e conflitos da vida que por um tempo me atormentarão. E, durante esse tempo, você tem que me aguentar pois numa co-incidência nada por acaso de escolhas suas e minhas, estamos acá, lendo e escrevendo, respectivamente, sobre coisas completamente sem sentido e, paradoxalmente, inefáveis. Well, with no further ado, I shall commence.

Invariavelmente aqueles que muito pensam, pouco fazem. Não, não há exceções. Só, é claro, as próprias exceções. Mas, de maneira geral, penso que isso seja explicável pelo fato de que por pensarmos muito - e aqui utilizo o plural em vez do singular não por acaso - chegamos a tantos impasses quantos são os nossos pensamentos e, portanto, a paralisia de conduta é inevitável, para que não seja mortal - ou quase isso, mas aqui a dramatização não vem em doses homeopáticas, como já se deve ter percebido. E, por isso, numa sociedade que é instrumentalista, focada no resultado e a ciência estando no seu ápice da necessidade de ser um meio objetivo de conhecimento do mundo, pessoas como eu não estão exatamente encaixadas, como estariam as peças do interminável quebra-cabeças universal mas que, por mera ignorância, somos incapazes de compreender. Ora, não afirmo isso de forma a passar um sentimento de dó ou pena para meu interlocutor em relação a mim, mas sim com a intenção de atestar que o mundo, imperfeito como sempre, no caso dos dias de hoje é imperfeito especialmente para a subjetividade humana e, logo, pessoas com um bocado dela estarão com problemas.

Só pode ser, dessa forma, que pensar e usar da minha capacidade racional - afinal, a irracional não é controlada por aquilo que Freud chamava de Ego, ou seja, não é consciente - é algo extremamente prazeroso, ainda que gere tanta angústia. Então, só posso concluir que, para mim, pensar é, nada mais nada menos, que objeto de paixão, uma vez que sinto por este ato uma ambivalência característica daquele que ama. Por que será que essa paixão anda tão rara, tão sumida, tão assim... longínqua atualmente? Parece que foi sozinha pra Marte com seu foguete construído por si mesma e não voltou. Ou, se voltou, foi como poeira de estrelas chovendo na cabeça de alguns poucos... Devo esclarecer que refiro-me aqui a toda e qualquer atividade intelectual. O pensar é, também, o agir. É também o refletir, o questionar-se, o encontro com a natureza, a identificação de si consigo mesmo, a contemplação do grandioso... Não deixe-se levar por uma lógica racionalista que impera em boa parte do tempo atualmente, pois ela é limitada. A apercepção da realidade não pode ser objetivada sem grandes perdas para a sua compreensão pelo indivíduo. Dessa forma, é imprescindível que se entenda que a vida é algo a ser vivido mais que racionalizado. Racionalizar, entretanto, também é viver. O contrário, porém, é muitas vezes banal.

Aquele que busca incessantemente, sabendo ou não o objeto de sua procura, ainda não foi capaz de entender que já achou aquilo que busca, ainda que continue buscando. O que procura, na verdade, é a busca incessante em si mesma, a eterna procura por algo que não se consegue nomear. A vida é um trânsito de matéria para o qual não se sabe o fim e, aquele que ainda almeja uma posição definida, imutável, absoluta, definitivamente é infeliz pois não percebeu que gasta todo o seu tempo buscando o inalcançável. Não há felicidade eterna pois a felicidade se constitui justamente em sua ineditez cotidiana. Viva de tal forma a desejar que cada momento seja eterno. Entretanto, se assim fosse, talvez não saberíamos o que é ser feliz, afinal a infelicidade seria ausente. Não é fácil, muito menos frequente... Portanto, quando um desses instantes se der para ti, valorize. Porque é a única coisa que importa. E não procure uma fórmula, pois sendo a vida um filme de momentos inéditos sobrepostos, o desejo de que cada instante se eternize é, ele próprio, consequência de uma série de coisas que, por sua vez, mudarão e, no próximo instante, serão outros os seus desejos de instantes eternos, bem como os próprios instantes serão novos.

A felicidade é encontrada aqui e ali pelos muitos que a procuram. E é vivida quase sempre pelos poucos que a entendem em toda a sua complexidade. E é por isso que sempre tive a impressão de que a dor é subestimada. O processo depressivo é causador de mudanças magníficas e impressionantes no indivíduo. Assim, não deve-se tentar excluí-lo como se fosse algo inadmissível, repulsivo - apesar de ser esse o lema cultural de hoje. O sofrimento engrandece e permite a visualização de novas perspectivas, algo de extremo valor, uma vez que a vida é, pelo menos durante esse tempo em que a vivemos, parcial e relativa. Nada absoluta. A vida é como uma escada, mas uma escada plana, lisa, chata... Mas é mais que uma caminhada. É estranho, é incompreensível, é belo e é, principalmente, angustiante. E a beleza da vida está justamente nessa união sinestésica de sensações e percepções que se nos apresentam cotidianamente. Cabe a nós, however, try and make something out of it. Is the beauty out there or is the beauty in here, in the eyes of the one who sees? Estou fadado a acreditar na segunda opção. E, oh, como ela é libertadora.