Será ela o mal do nosso século? A culpada por grande parte dos problemas modernos? A persona em quem projetamos toda nossa raiva (e isso já é uma projeção, perceba bem!)? Pobre coitada, reprimida por milênios, não o foi à toa. Ou foi?
A Liberdade, sim, maiúscula assim, é tão boa quanto ruim, tão libertadora quanto opressora e determinante. É fácil chegar a esta conclusão: se vivemos em sociedade, a liberdade - agora minúscula - de um, quando ela sem seu parceiro amoroso, essencial e perene, o bom-senso, é, provavelmente, a opressão de outro. Ela mesma, a Liberdade, quando divorciada, é opressora e oprimida, simultaneamente. Ativamente, o é por causa do pensamento já exposto, ou seja, dependendo do sujeito ao qual está emparelhada, como já ensina a Física há tempos - dois objetos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo, ou, um ser não pode estar em dois lugares diferentes no mesmo instante, ela oprimirá o outro (já que, numa relação entre 1 e outro (s), ela só pode escolher uma opção). Assim sendo, o indivíduo que for seu acompanhante durante tal horário será também o indivíduo que privará os outros de sua companhia. Já passivamente, ou seja, ela própria - Liberdade - é oprimida por si mesma: sendo apenas uma - e, não, ela não tem irmã gêmea! - nunca pode ser companhia de si mesma. E, caso isso seja falso, não teríamos problema, porque a Liberdade em sua essência - como o seria, se acompanhada de si própria ou de sua gêmea -, como todas as outras coisas da vida, não é ruim.
O indivíduo, desta forma, ou a sociedade, como pensava Rousseau (numa separação, que a mim é estranha, entre indivíduo e sociedade), corrompe este ser etéreo que é a Liberdade, em si mesma pura e, principalmente, libertadora. De uma forma ou de outra, ela está corrompida em nossa sociedade. Liberdade, esta virgem pura de muitos e longos anos, sempre muito preservada longe de nossa vista, fora estuprada e usurpada logo quando estava pronta pra "sair do armário" por si mesma. Fora arrancada de lá, na era do capitalismo de mercado.
Na sociedade atual, capitalista e, em minha leiga opinião (economicamente falando), consequentemente individualista, ela está em vigor. E não é de surpreender, afinal, é o ideal máximo pregado numa sociedade consumista. Também é o valor máximo de expressão de uma sociedade. O que faz, oras, um indivíduo tirar seu celular do bolso em plena sessão de cinema e começar a mexer no aplicativo do Facebook ou do Instagram? Talvez o buraco seja mais embaixo...
O que penso é que, talvez, não haja algo bom e ruim em si. Como já dizia Gandalf, no último filme do Senhor dos Anéis (O Retorno do Rei), "o que realmente importa na vida é aquilo que fazemos com o tempo que nos é dado.". Substitua a palavra 'tempo' por qualquer outra. Nos é dada a Liberdade e ela, por si só, não é boa nem má. Não possui valor intrínseco. Assim, oh minha virgem, não é sua a culpa dos problemas de nosso tempo. Não... A culpa é nossa. Somos nós que fazemos bom ou mau uso de ti. É o indivíduo, ele mesmo, que escolhe, sendo possuidor de ti, o que fazer contigo mesma.
Mas será mesmo que somos donos de ti? Será que estás em nós? Acho difícil pensar que escolhemos livremente. Mesmo quando pensamos sozinhos, um ato incrivelmente individual e aparentemente livre de julgamentos, não somos nós que pensamos. Algo em mim pensa, não eu mesmo. Não escolho o que pensar. Simplesmente penso. Do nada, vejo constelações, vejo você, vejo eu... Just like that, out of the blue, my mind is filled with everything where there was nothing. Talvez seja essa a Liberdade. Não a de escolha, mas a de sermos capazes de pensarmos "fora da caixa". A caixa aqui, é claro, se refere a nossos instintos pois, diferentemente dos animais, apesar de termos instintos, temos a razão, capaz de controlá-los. E, além dela, temos a não-razão, a in-consciência... Essa dona de nós mesmos, apesar de não se apresentar a nós mesmos. Ao mesmo tempo, ela nos dá uma possibilidade, talvez libertadora, de ser mais do que aquilo que caracteriza os animais: além de instintos, razão e inconsciência.