Há uma suposição generalizada e, até hoje, provavelmente quase universal - até hoje, pois, hoje pensei sobre isto - que após a morte ou morremos, de fato, caímos na terra, somos comidos e está lá, acabou, cessou, parou o pensar, a reflexão. Ou isso, ou continuamos numa espécie de sobrevida mediada por um Criador, uma vida após a morte, onde o oposto acontece: começa, continua, reinicia-se o pensar e a reflexão. Mas, agora que me incomodo fortemente após ver um vídeo de C. G. Jung, penso que talvez nenhuma dessas sejam concepções corretas acerca do ato de morrer tão praticado atualmente num mundo com 7 bilhões de pessoas.
Penso agora, comigo, por que diabos nunca pensaram (será mesmo que sou original nisso?) que talvez, a experiência da morte não seja diferente da experiência da vida? Talvez a resposta para esta pergunta seja encontrada na observação humana da natureza: tudo, ora, tudo mesmo possui um "ciclo de vida", um começo-meio-fim, um início e um término, o nascimento e a morte. Não só mais a natureza, como também os bens: começam "novos" e perdem sua utilidade ao envelhecerem eles mesmos, os filmes também começam e acabam (ainda bem, imagine só ficar infinitamente assistindo certos filmes infanto-juvenis!). Dessa forma, seria lógico pensar que, nós, parte desta natureza, parte deste mundo, seguiríamos este mesmo ciclo. E, como nunca voltaram para dizer o contrário, talvez seja até óbvio que, após a morte, com efeito, morramos, deixemos de existir.
Agora apresento minha mais nova, modificada e recém-lançada linha de pensamento: e se, talvez, ao morrermos, continuamos vivos, mas uma parte de nós? Uma parte de nossa psyché continua vivendo, não mais limitada pelo tempo e espaço, como o é o nosso corpo, continua pensando e existindo, mas de maneira diferente. Continuaríamos pensando, vivendo, mas não mais experienciando. Ou seja, com a falta de um corpo material talvez caíssemos numa névoa cósmica, não mais vivendo neste mundo como o percebemos hoje, mas vivendo num mundo totalmente idealista, imaterial e, portanto, atemporal. Não sei como funcionaria, nem pretendo descrever as mecânicas de tal mundo. Mas imagino eu que seria bastante interessante, principalmente porque, penso eu, não estaríamos a sós. Não é o fato de não mais possuirmos um corpo que limita nossa capacidade de viver em conjunto. Seria, de certa forma, um mundo feito apenas de consciência. Ou, quem dirá, inconsciência. Um éter.
Ainda penso em mais um aspecto que também considero em parte original e de espontânea criação: a autenticidade e personalização da morte. Por que, se nossa vida é recheada e construída ao redor de experiências únicas, individuais, singulares, cada qual significando mesmas artes e mesmos fenômenos diferentemente, por que, então, com a morte seria diferente? O que leva a pensar que esta seja isenta desta mesma peculiaridade do ser humano? Por que, num daqueles mundos etéreos, a morte seria igual perante todos? Será que, talvez, numa perspectiva religiosa de julgamento e penitências, esta seria a lógica a seguir? Uma morte para todos?
De qualquer maneira, a morte seria personalizada. Seria individual, singular e única, assim como a vida e como todas as experiências e significações que permeiam a mesma. Ou seja, existiriam aqueles que morreriam, de fato! Aqueles que, por não crer numa vida após a morte, por crer tão fervorosamente na não-vida após a experiência de morte, não simplesmente "deixariam de existir" mas não conseguiriam experienciar essa vida atemporal, (in)consciente, justamente por estarem experienciando, na verdade, aquilo que passaram a vida toda acreditando. Ou seja, estão no seu próprio universo etéreo, não-vivendo, mas não o percebem, ou melhor, não o compreendem (perceber é errado porque não há percepção, há só entendimento, dada a falta de órgãos do sentido) e, julgam, (in)ativamente que estão mortos, ou ainda nem julgam. E também existiriam aqueles que, cada um a sua maneira, singularmente, experienciariam a morte de uma maneira tão individual quanto possível, mas em companhia de outros que também, por motivo do acaso (será que ele sequer existe?!), estariam num mesmo contexto de vida, mas uma vida não limitada a esta última, sem também querer significar uma "vida passada"... Como se houvesse uma vida imaterial ao mesmo tempo que a vida material e, ao morrer, só a imaterial permanecesse. Como um inconsciente que, finalmente, vira só consciente, mas continua com sua dinâmica de pensamento. Essa possibilidade é sensacional!
O que, por algum motivo (lembre-se, não me reservo para escrever, portanto, a própria escrita sofre alterações enquanto converso com outras pessoas), me faz pensar num vazio... Não sei, já perdi a linha de raciocínio. De qualquer forma, penso no frio, no vazio... E penso, de fato, no frio, no vazio.