Chegará um momento em que ir à escola, ao colégio, à Universidade, ou seja, à qualquer instituição que faz de sua prioridade a reflexão intelectual fará com que ocorra, de fato, a reflexão intelectual e não uma doutrinação dogmática de conteúdos cuja função é cumprir tabelas governamentais e planilhas eletrônicas, ou mesmo alcançar bons resultados em testes para egressos ou alunos concluintes. Pergunta-se, então, como se garante a uniformidade e a excelência de ensino em todo um território se o ensino em si não é uniforme? Ora, talvez se parassem tanto de focar nesse aspecto, os dirigentes descobririam que, com reflexão intelectual, há pouca necessidade de uniformidade de pensamento, uma vez que, independentemente do caminho que se toma, o destino inevitável é, nada mais nada menos, que a excelência em si, afinal partiu da maior e melhor faculdade que o ser humano possui.
Incrível como a instituição que nasceu da necessidade de se aglomerar indivíduos que pensam acabou se tornando a mesma que massifica os já não-pensantes. Enquanto a real obra do homem encontra-se em sua espontaneidade, atualmente, a vida passa diante de seus olhos fóbicos e deixa-o perplexo e angustiado enquanto debate consigo mesmo qual é, de fato, sua obra. O que ele fez e deixou ao mundo, ainda que um mundo restrito, dadas as proporções de hoje, para que este seja um mundo diferente daquele que era quando nasceu. Espero que pelo menos esta angústia não seja já patologizada e rapidamente medicada. Se for, também, já não me espanto. Critico a falta de perplexidade ao mesmo tempo que permaneço indignado...
Temos todos uma tentativa de uniformizar, classificar, segregar, separar, tornar único aquilo que é diverso. Isso é principalmente problemático quando se trata da vida e tudo que a permeia. O leitor mais atento pode pensar: "Se isso é especialmente problemático, o que é que fazemos que não é? Afinal, a vida é tudo o que conhecemos". É verdade. A colocação foi generalizante em si mesma. O que é ótimo, afinal sou humano e pretendo, inicialmente, reforçar a ideia de que não estou isento ou marginalizado às minhas próprias colocações. Não sou um grande pensador, apenas um pensador ~um pouco~ grande. A vida é diversa, a vida é complexa, grandiosa, gloriosa, mesmerizante, encantadora. É de uma simplória ignorância tentar contê-la, aprisioná-la, recatá-la, tolhê-la, enjaulá-la em algumas toscas categorias. Por quê?! Compreenda-a em sua totalidade! Ora, tente, pelo menos! Pare de pensar de maneira tão intencional, vá contra a determinação ontológica do ser humano, seja uma consciência instantânea e, melhor ainda, espontânea, não intencional. Seja menos positivista.
A brisa noturna, fresca e úmida, agrada-me grandemente. Pois ela é rara. E sua raridade, como acontece com aquela pedra-cristal brilhante de alto valor econômico feita somente de carbono, torna-a única, singular e especial. Percebo-me, conforme a passagem dos invernos cada vez mais curtos e dos verões cada vez mais longos e quentes, num movimento, ainda que tartarugal, de percepção do todo (oh, doce ilusão!), de mudança de pensamento, de entendimento de mim mesmo. É bom, como a brisa. Refresca o pensamento e, ainda mais importante, o sentimento. Tento caprichar uma vida para que esta não se torne medíocre. Alento-me buscando um objetivo, um destino, uma direção, mas não mais com o objetivo de chegar lá... Apenas o faço para que, enquanto estou aqui, não me perca em pensamentos idealistas, mas busque um destino dinâmico e que se modifica conforme penso nele, conforme vivo, ele se me apresenta com toda sua cor e vida.
Aquele que evita e esquece-se da morte é infeliz, pois quando ela chegar, já será tarde demais para pensar onde se queria ir antes d'ela aparecer. Ou não. Sempre: ou não. Afirme-se antes, questione-se depois. Um pensamento é sempre mais fácil de ser criticado quando já exposto do que quando se esconde atrás das defesas de nosso psiquismo. Curto hoje.