Estou feliz! "Por que", você pode se perguntar? Como, afinal os últimos escritos têm sido melancólicos, pra usar um eufemismo sem tamanho? A verdade é que não sei. Às perguntas comuns que costumam me fazer respondo que não sei e não é pra poder livrar-me delas. É porque, real e simplesmente, não sei. Talvez, saiba a resposta de uma pergunta: "Para quê?". Ora... Para ser feliz! Para poder viver com mais serenidade, característica que tanto me admira em pessoas idosas. A calma, a sutileza e a serenidade presentes em suas ações, mesmo cotidianas, me deixam com olhos brilhando. E não poderia ser diferente: é como se informassem, através de suas ações, que viveram. Bem, mal, felizes, tristes, com problemas, endividados, admirados, depressivos... Não importa, viveram. E, nisso, são únicos. São parte de um grupo seleto e pequeno - para mim, pelo menos, seja lá quantos foram que já passaram por essa Terra, ainda somos pouquíssimos. Em comparação com o resto de energia existente no universo, somos grãos de areia fina. Todos eles passaram por experiências formidáveis, únicas e irreplicáveis a qualquer outro ser humano. E é felicidade que contagia, gera inveja e é motivo de felicidade - para mim mesmo e para os outros. Uma retroalimentação que acaba gerando seu próprio gerador. Decidi dar uma chance às chances, à vida. Não é que ela me surpreendeu?

Gostaria de enfatizar o verbo utilizado para introduzir-me aqui: estar. Emoções são estados. Assim como a matéria, é fluida e sujeita às intempéries e condições objetivas de nossa vida. Não podem ser controladas, criadas ou destruídas - exatamente como o resto da natureza. Há sempre equilíbrio, homeostase e, principalmente, fluxo. Emoções não são: estão. E é por isso que a vida se torna sensacional e infinita em possibilidades. O que seríamos se tivéssemos que nos conformar, apenas? Temos que fazê-lo também, às vezes, e ainda contra nossa vontade. Mas também. Não somente. São as particularidades, as coisas pequenas e aquelas que menos achamos repercutirem em nós que, no fim, lembramo-nos. No leito de morte, no pé da cova, no pedágio da estrada para o desconhecido, são elas que realmente fazem-nos únicos e sujeitos, em vez de genéricos objetos. É por isso mesmo que devíamos nos preocupar mais com tais que com outrem. Que vivamos por uma vida com mais preocupações relacionadas às coisas simples, como o que terá de janta, ou o que faremos para comer caso não gostemos da comida do que uma vida cheia de preocupações relacionadas a datas de entregas de relatórios e com o horário que chegaremos no consultório médico. Por favor, não é mesmo? Por favor... Preocupemo-nos mais com as pequenas coisas que nos completam que com as que julgamos serem grandiosas, mas só nos enchem, não completando-nos nem de longe.

E, a você, que está triste, sente-se mal, saiba que é bom estar feliz. Mas melhor ainda é saber que é possível estar triste, pois a beleza da vida não jaz em sua concretude, mas na mistura perfeita entre água e barro, pra transformar-nos naquilo que sempre fomos: argila. Somos maleáveis e moldamo-nos como queremos até o fim e não inatingíveis, ou formados desde o nascimento. Pois a vinda a esse mundo é caracterizada por uma dança cuidadosa e frágil dos corpos de mãe e bebê. E a partida daqui é feita, em sua maioria, por ossos leves, moles e desgastados por uma história longa de experiências. Saiba que basta um olhar mais calmo e uma atenção dirigida às pequenas coisas belas que nos rodeiam para uma felicidade breve. E, a partir dela, segue-se. Ou não, mas aí não possuo outra sugestão. Não tente ordenar ou formular, apenas viva. Viva intensamente. Não precisa ser "porra-louca" pra isso, trust me. Mas a intensidade está em cada experiência. Torne o cotidiano incomum, o usual em atípico. O pouco basta, o nada é insuficiente e o demais é êxtase ultrapassado sem ser sóbrio.

E é por tudo isso, por tentar ser mais vivo que morto, por querer morrer de risadas e viver alegremente, que resolvi mudar algumas coisas. Passei a andar de cabeça erguida, não mais admirando a sujeira do chão mas o rosto de pessoas belas e as poucas paisagens bonitas numa cidade urbanizada como a minha. Resolvi sorrir ao cumprimentar pessoas e cumprimentá-las, em primeiro lugar. Resolvi abraçar com vontade e não da forma xôxa que costumava fazer. Pois essas são algumas das pequenas muitas coisas que a vida nos oferece o prazer de viver. Cabe a nós vivê-las da maneira que desejarmos. Portanto, saiba disso. Saiba que a maneira que encaramos a vida está mais influenciada por nossos olhos que pelo olhar do outro. Portanto, deixo no peito minhas esperanças por um amor não correspondido pra que minhas pernas continuem caminhando e deixem tudo acontecer (por uma razão). E, acredite, basta permitir permitir-se. O tudo vem. O tudo acontece. Porque é fluxo. E as razões, disse e repito: não precisam ser conhecidas. Deixe-se perder o controle. Deixes a felicidade brotar, pares de pisar em cima dos brotos que queres ver florescerem. Regue-os, mas não os retires da terra fofa. E fique bem. Ainda que estejas mal. Já informei-lhe, agora sabes que é possível estar triste. Afinal, somos argila.